sexta-feira, março 03, 2006
Syriana
Fui ontem assistir a uma sessão de cinema, já sabendo antecipadamente que iria ver um thriller político.
Não que o filme seja uma obra prima da sétima arte, mas a espaços consegue ser brilhante, especialmente na crítica e na perspectiva que consegue dar ao espectador.
Nunca fui, admito, propriamente anti-americano. Pelo contrário, vejo muitas vezes o sistema económico dos EUA como um expoente máximo do liberalismo económico. A verdade é que este filme, com todas as eventuais reticências que se lhe possam por, reflecte uma perspectiva que não deve andar muito longe da realidade. Um espião que por começar a ter ideias democráticos e humanistas, é afastado. Decisores políticos e militares americanos que preferem recorrer ao afastamento líderes tendencialmente democráticos e inovadores da região do Médio Oriente em nome da Defesa Nacional e da Economia Nacional. Líderes árabes sem escrupulos. Fundamentalismo islâmico. Alianças perigosas, estranhas e perversas. Corrupção. Dinheiro sujo, que gera políticos sujos. Sistemas legais vazios que deixam prevaricadores impunes. Toda uma trama política, que em nada belisca o sistema liberal na sua génese e teoria, mas que reflecte antes os meandros podres da política americana, subjugada à corrupção.
Nunca me ouviram dizer que o dinheiro e o capitalismo selvagem é a solução. Sempre defendi a regulação. Liberalismo não é isto. Liberalismo é a opção pelo mercado, em democracia. Num sistema liberal, o mercado diria que os líderes corruptos são punidos e as cotações dessas empresas caíriam a pique. Num sistema liberal, há espaço para que as democracias que elevem, sejam em local do mundo for, pois tal só traria benefícios à economia global, novos e mais investimentos, com menor risco. Mais uma vez, de uma forma subversiva desta feita, é o Estado e os políticos que parece tentar influenciar o mercado.
Resta-nos saber que no longo prazo não é possível manter políticas não credíveis. Esta é uma verdade na teoria economica, na política e na vida.
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