quinta-feira, setembro 14, 2006

"Geração Recibos Verdes"

«Acabei mais um molho de recibos verdes. Mais um. Outros estão à espera. Porque isso dos "direitos adquiridos" não é para a minha geração. Não sou da geração rasca. Sou da geração recibos verdes, a primeira da história a ser explorada pelos pais e pelos avós. Este contrato social está falido. Mas não está falido apenas economicamente. Está podre, acima de tudo, do ponto de vista moral. A geração recibos verdes não merece o respeito dos pais e dos avós, que só pensam nos "direitos adquiridos". Os meus filhos nem sequer aparecem no mapa deste mundo de "direitos adquiridos". Uma sociedade que não respeita aqueles que estão por nascer não merece o meu respeito. Mas vai roubando o meu dinheiro. Ando a pagar luxos a reformados com 48 anos. O dinheiro que me faz falta para construir a minha família vai para uns "direitos adquiridos" que apenas vi uma vez - um reformado deu-me 100 paus para comprar um "rajá" -; direitos adquiridos que serão má ficção científica para os meus filhos.»

Henrique Raposo no http://revista-atlantico.blogspot.com/

Citado e retirado do sempre brilhante Blasfémias

6 comentários:

Terra e Sal disse...

Bom dia Carlos Martins:
Passei para o cumprimentar.
Tal como você, estou tentado a não dizer nada, mas vou dizer, agora não, tenho de sair, mais logo.
Cumprimentos.

Terra e Sal disse...

Meu Caro Neo-liberalista:

Muito atabalhoadamente, hoje ando com pressas, deixe-me dizer-lhe duas coisas;
Penso que sabe quem escreveu e apostou no “ neo-liberalismo”.
Um economista, se calhar recomendado aí em alguma universidade, um americano, tinha de ser, mais rodado pela idade que o meu Amigo, é um facto.
O tipo é de preconceitos, e quem o é, deve ser recordado das suas origens.
Com certeza que sabe o que era a América para os ingleses, e quem para lá mandavam desterrados, todos sabemos as origens de muitos que por lá andam...
Depois acho o seu post, um bocado confuso.
Nem sei se é a favor ou contra os direitos adquiridos...
Seja como for vou dar-lhe uma ajuda, pelo social, palavra inspiradora do socialismo como deve saber.
Por um lado parece satisfeito por passar recibos verdes, depois revolta-se contra quem os “fabricou”...
Logo a seguir dispara contra reformados de 48 ou 50 anos, muita confusão...
Traduzindo e procurando padrões de comparação, o meu Amigo acha que um filho quando nasce, terá alguns direitos temporários, possivelmente mama durante dois ou tres meses,e a usufruir do amor dos pais enquanto for saudavel, e não há dever nenhum dos pais de lhes dar condições condignas, e então falando de património, é dos pais, devem esbanjá-lo enquanto cá andam, não é sua obrigação preservá-lo e de criar mais ainda, para um dia deixar ou distribuir pelos filhos, isso nem pensar...
Um filho que fique doente, que se torne inválido, deve ser arrumado do seio familiar, é um peso morto sem direitos, sem apoios, sem ajuda, tal e qual a Idade Média, ou mais recentemente, do “reinado” de Hitler.
Para si uma empresa a quem os trabalhadores dedicam uma vida com amor, muitas vezes até prejudicando a vida familiar não é dele, é só dos patrões, não tem direitos sobre ela, só tem deveres, e nem uma quota por muito pequena que seja lhe será dada através da reforma, dos descontos que religiosamente fez, para um dia ter...
Parece-me que, uma empresa para si não é um bem social, é só única e simplesmente dos patrões, dos accionistas, que podem fazer o que querem tal e qual um proxeneta com a sua prostituta.
Não têm que dar satisfações, aquilo é deles, e até se lhes apetecer metem trancas à porta, ela até é deles...

Depois, os reformados com “meia dúzia de anos de trabalho”

Sabe ainda muito pouco da vida, Caro Carlos Martins, por isso deve saber que aquela coisa de se ir para a Universidade e lá andar 5 aninhos e sair com o diploma vai acabar, depois do "tratado" de Bolonha.
Estuda-se vem-se cá fora um ano para saber como é, volta-se lá outra vez, a Universidade da vida tem muita matéria a dar, e vai ser assim sempre até morrer, seja com recibos verdes ou não...

Mas deixemos isso...
Deixe-me traçar-lhe um quadro concreto de uma Instituição bancária, entre muitas outras, elas são todas iguais...
Vou-lhe só falar numa, um dos grandes potentados económicos deste país...
Veja a sua história, sujeito a algumas correcções em números que não tenho presentes.

Tempo de existência: 23 anos.
Capital social: 2 milhões de contos, na altura...uns trocos.

Lucros anuais: Astronómicos.

Maior Instituição portuguesa e uma das maiores da Europa.

Pessoal dispensado ou reformado de há meia dúzia de anos a esta parte:
entre 40% e 50%, todos à volta dos 50 anos e com reformas à volta dos 750 Euros...

Saiba meu Amigo que os reformados, a grande maioria, foram “escorraçados” dos seus lugares, do seu emprego, do seu trabalho...
E não está aqui em causa terem sido bons ou maus trabalhadores, nada disso.
Os exploradores, inspirados por Deus, que até parece ser lá accionista, têm uma mente “diabólica” de “chicos espertos”
Com menos 50% dos seus efectivos, enquanto este país se vai afundando utilizam o trabalho escravo, o recibo verde ou outra manigancia.
A “fome” obriga a tudo, e a sujeição é a maior desgraça...

Jovens licenciados, altamente qualificados e classificados, trabalham de manhã até altas horas da noite, a troco de meia dúzia de euros por mês, não recebem uma hora extrordinária, e ao fim de 3 anos mandam-nos para casa, para fazerem o mesmo com outros...
Os patrões instituíram a escravidão, abrigados no "neo-liberalismo" sem respeito por horários, pelas leis e pelo ser humano.
E no fim de cada ano vêm para os jornais anunciarem os seus lucros fabulosos, quando muito dele é de quem trabalha...
Daqueles que um dia, tal como você, virá a comer dos recibos verdes de alguém, como outros comem dos descontos que alguns fazem, e que eles já mataram a fome a outros também.

Daqui a mais 30 anos nós conversamos Caro Carlos Martins, é que sempre quero ver se mantém essas ideias, que parecem lapas, tão enraizadas estão...

Abra o espírito, deixe "pergaminhos" bacocos e desumanos, venham de onde vierem.
Cumprimentos.

Carlos Martins disse...

Tal como o Terra&Sal, também fiquei tentado a nao responder. Mas é-me quase impossivel resistir, por isso fá-lo-ei oportunamente. Ate breve. Cumprimentos retribuidos.

Carlos Martins disse...

De facto o meu caro amigo Terra&Sal não estava nos seus dias. A prosa saiu-lhe não atabalhoada como diz, mas seca sem o brilhantismo a que a todos habituou (perdoe-me a crítica...).

O que já não vale é pegar no factor da minha idade para basear os seus argumentos.

De facto, deixei bem claro no post que se tratava de uma citação. Com aspas, referência e contra-referência. Nem um único comentário. Muito ao estilo do que faz no seu blog, mas em vez de uma imagem, era apenas um texto.

Depois, começa a construir um mundo de fantasia, só seu, sobre o que é o neo-liberalismo para logo de seguida críticar. Ora, assim não vale...

Senão, vejamos:

"Para si uma empresa a quem os trabalhadores dedicam uma vida com amor, muitas vezes até prejudicando a vida familiar não é dele, é só dos patrões, não tem direitos sobre ela, só tem deveres, e nem uma quota por muito pequena que seja lhe será dada através da reforma, dos descontos que religiosamente fez, para um dia ter...
Parece-me que, uma empresa para si não é um bem social, é só única e simplesmente dos patrões, dos accionistas, que podem fazer o que querem tal e qual um proxeneta com a sua prostituta.
Não têm que dar satisfações, aquilo é deles, e até se lhes apetecer metem trancas à porta, ela até é deles..."

ponto 1.

Veja como a remuneração aos trabalhadores é feita em países como os EUA, onde os trabalhadores tem grande parte do seu salário associado ao lucro da empresa. Claro que em Portugal, onde vicios de anos provoca empresas a ter como objectivo lucro zero, isto não pode funcionar, obviamente.

ponto 2. De facto tem razão numa coisa. A empresa é só dos accionistas. E isto porque são eles que tem o risco de investir o capital. FOram audazes, tiveram uma ideia. Ou simplesmente dinheiro a mais. Não interessa. É obvio que é boa pratica de gestão envolver os trabalhadores na decisão da empresa. Mas isto é bem diferente do que disse. A empresa não é a Santa Casa da Misericordia nem um centro de emprego. É uma organização que tem como objectivo o lucro. Se possivel, integrando-se bem no meio onde vive. Parece-me que o meu caro amigo está demasiado fechado na nossa realidade para se atrever a pensar diferente...

ponto 3.

Há regras definidas. Eu não sou contra as regras. Sou talvez contra estas regras, mas nunca a favor do seu incumprimento. Uma coisa é certa: urge montar legislação mais eficaz na fuga ao fisco e nas falencias fraudulentas. Assim como urge criar mais condições de mobilidade do factor trabalho e baixar significativamente os impostos das empresas. (e todos os outros em geral). Medidads que não funcionam se implementadas em separado...



Mas voltando-me agora para o exemplo que deixou da instituição bancária, posso desde já dizer que concordo com as críticas que faz aos nossos bancos. Só não concordo quando lhe chama neoliberalismo.

Mais uma vez lembro-lhe, no UK ou EUA, as grandes instituições (pelo menos estas) tem grandes esquemas de pensões (muitas vezes, o factor decisivo na escolha de emprego...), o que leva a evitar esse tipo de situações que refere. Escusado será dizer que quer o UK quer os EUA são bem mais liberais que Portugal. Escusado é também dizer que a questão das reformas e da seg social dava espaço a horas de discussão...

Mas adiante. Refere aí um grande problema. Um problema nosso, português, cuja economia não é propriamente conhecida por ser neoliberal ou com muita mobilidade laboral...

De facto, os recibos verdes nos bancos é um problema real. (Já no caso das reformas que refere, tenho mais duvidas, não tenho conhecimento de casos semelhantes...) Ao fim ao cabo, esse problema que afecta tantos jovens (não só nos bancos) acaba por ser um indicio da falta de emprego e da falta de crescimento da economia. Em ultima análise, é também a rigidez da mobilidade laboral que provoca a precaridade. É estranho, de facto. Estranho que o País da Europa onde há mais rigidez legislativa face ao trabalho seja o País onde o emprego é mais precário. E quando se fala em flexibilizar, vem logo o exemplo dos EUA... Meus amigos, entre recibos verdes e os exemplos de economias desenvolvidas, não ha grandes duvidas sobre o que é preferível... Nem sequer ha comparação em termos de condições de trabalho. Há é uma pressão adicional em fazer o trabalho bem feito. Coisa que nunca estivemos muito habituados.

Mas agora Terra&Sal, tenho que lhe dizer uma coisa. Nunca o pensei tão radical como aqui nos faz ver. Ir ao ponto de criticar os lucros dos bancos e tendo mesmo a coragem de exigir que estes sejam transferidos para os seus trabalhadores... Parece-me demasiado à Jerónimo de Sousa. E isto, vindo da minha parte, como deve calcular, não é nenhum elogio. Se os senhores trabalhadores quiserem particiar dos lucros, tem bom remedio: comprem acções. E os bancários com vários anos de serviço não teram qq problema financeiro para o fazer...

Em última análise, se uma ideia louca de retirar lucros aos bancos fosse posta em pratica, seria o caos: bancos a desinvestir (ou também os queria obrigar legalmente a ficar?), menos emprego, menos fontes de financiamento, menos concorrência entre bancos, logo serviçoes bancários mais caros... Os lucros dos bancos não são o problema meu caro, a falta de lucros no resto das empresas é que é !

Mas verdade seja dita, sendo a principal actividade dos bancos a concessão de credito, porque não haveriam de ter o ponto mais alto dos lucros nesta altura?? É o mesmo que o agricultor ter mais lucros num ano de grande colheita...

Podemos conversar daqui a 30 anos, mas eu prefiro faze-lo com menor espaço de tempo. APesar de tudo, é sempre um prazer discutir consigo.

Cumprimentos

Terra e Sal disse...

Ai Carlos Martins, Carlos Martins:

Você tão jovem e tão enraizado a esquemas falidos...
É brilhante nas voltas que dá a defender um ponto de vista que é compartilhado por tão poucos.
Olhe que ser-se obstinado é um defeito terrível...

Nem sequer, aliás, como sempre faço, me dei ao trabalho de ir ver quem subscreveu a ideia, que sinceramente nem entendi bem, apanhei-lhe só umas pontas...
Interessou-me e entristeceu-me a sua "benção", e critiquei-a pela estima que embora pense não existir, eu tenho por si.

Pertence a uma minoria esse seu raciocínio, você sabe.
Saiba que muitas empresas modernas dividem os seus lucros pelos trabalhadores.
Claro que não são equitativos com as dos accionistas mas uma percentagem dos lucros é dividida por eles.

Entenda, e sei que entende que psicologicamente estimula.
Eles, os outros, todos nós, funcionamos melhor pela positiva, e não ao contrário.
Porque é que há trabalhadores que vão para o seu local de trabalho alegres e sentem-se felizes, e outros vão como se fossem para o inferno?
O que produzirão uns e outros?

Depois erradamente não vê no trabalhador um "capital" humano valioso para qualquer empresa...
De repente até parece que nos quer reportar ao tempo dos "negreiros", ou seja, eles têm de comer, e para comer têm de se sujeitar...
E como a oferta de "mão de obra" é grande quem tem a "nota" é que dita as regras...
Meu Caro Amigo isso não é pensar de um Cristão...

Claro, eu sei que há sempre uma arma,
a "fúria" popular, para repor a dignidade.
Mas era chato vermos os empresários outra vez a pirarem-se para o Brasil com o rabo entre as pernas, com os problemas de consciência.

Bem, mas é como diz...
Eu nas minhas pobres ideias só me ridicularizo e como tal fico desmotivado para discutir consigo.
Mas fico com a minha, acredite, e daqui por 30 anos havemos de ver quem tem razão, se calhar antes...

É que a idade ou os cabelos brancos, nunca tiram a Razão a ninguém embora saiba que há excepções.
Cumprimentos para si.

Carlos Martins disse...

Caro Terra&Sal,

Como já tive oportunidade de dizer, eu estimo-o e respeito-o imenso. Como discussant anónimo acho-o brilhante.

Mais. Nem voce é tão radical como as vezes soa, nem eu sou tão radical como algumas vezes me pinta. Alias, muitas vezes tocam-se os nossos pontos de vistas, embora sempre esbatidos no fervor da discussão.

EU não só sei que muitas empresas modernas distribuem os seus lucros (não é novidade nenhuma) como inclusivamente disse-o no comentário anterior (não esteve atento :D ). Sublinho é que tal deve ser um acto de (boa) gestão e não imposto pelo Estado. Penso que nesta parte também concorda.

E engana-se quando diz que não vejo no trabalhador imporante capital para a empresa. Pelo contrário. É provavelmente o principal activo de uma empresa. Quer seja para definir e manter o espirito e filosofia, quer seja para inovar e dar mais valor aos produtos/serviços. Eu também sou contra as empresas que não são honestas com os seus trabalhadores. Obvio que sim. E que cumprem falencia fraudulentas. E que enriquecem os seus donos atraves de fugas de capital ao fisco. Claro que sim. mas isso é apenas uma ineficiencia do sistema judicial e se calhar uma legislação desadequada...

E já agora que fique bem claro, nunca chamei "pobres" às suas ideias, nem que se "ridiculariza". Até porque, como já disse, respeito-o imenso.

Mas ninguém é dono da Razão. Daí a sua beleza intrinseca e a químera que tantos lhe lançaram...

Cumprimentos