A geração agora na política sofre ainda de grandes complexos em relação à ditadura do Estado Novo, em relação à Revolução de 25 de Abril de 1974 e até ao 25 de Novembro de 1975.
Mas a próxima geração já não terá esse estigma. Não faltarão, por certo, os ironicamente velhos do Restelo saudosistas a gritar aos Sete Ventos o quanto se deve à tal Revolução de 25 de Abril, passando por cima da não menos importante data de 1975. Ironicamente porque durante anos esses mesmos velhos do Restelo apregoaram e apelidaram todos aqueles que pretendiam olhar para o futuro, com ideias livres dos constrangimentos que os movimentos de Abril então formaram de conservadores, reaccionários, saudosistas e mesmo de fascistas. Velhos do Restelo porque tal como aqueles a quem erradamente apontavam essas críticas, estarão nesse momento a querer reviver momentos que, apesar de relevantes na nossa História, não passam disso mesmo, História, pelo que deve ser lembrada, mas não revivida.
E essa geração de que vos falo, e que agora começa a emergir, diz que já nasceu muito depois do 1974, muitos deles inclusive depois de 1986. O que quer dizer que nunca viveram sem ser em democracia estável, nunca conheceram Portugal como um império colonial, nunca conheceram Portugal como um pequeno país isolado do resto do mundo e à beira de se assumir como uma república comunista – qual Cuba na Europa –, e só conhecem o Portugal de hoje, assumidamente Europeu, incluído num mesmo espaço europeu, partilhando uma moeda europeia, e submetido a regras e acordos internacionais que muito favoreceram o crescimento da nação e que, não obstante, criam obstáculos e dificuldades largamente compensadas pelas oportunidades e factores positivos que oferece. Essa geração sabe a História, mas não vive presa por ela. Essa geração talvez não saiba o que é (ou foi) viver sem liberdade ou sem democracia, mas sabe o que é melhor para Portugal. Essa geração sabe as vantagens da liberdade. Essa geração sabe distinguir liberdade de libertinagem ou pura rebeldia.
Mas mais que isso. Essa geração sabe e pode apontar defeitos e erros do passado. Sem constrangimentos pode dizer o que foi mau e o que houve de bom antes de 1974. Sem constrangimentos sabe dizer o que foi mau e o que houve de inegavelmente bom depois de 1974.
Sem constrangimentos, pois não têm complexos com a sua História, e à História pode-se apontar os erros cometidos, pois já foi vivida. Deve-se antes de mais, aprender com ela, para não os repetir.
Portanto, esta geração saberá dizer que o regime do Estado Novo teve a espaços políticas económicas altamente positivas para o País, mas também saberá dizer que tal jamais compensaria a falta de liberdade e de democracia, sendo estes valores imprescindíveis a uma qualquer sociedade moderna. Contudo, com a mesma liberdade que se permite dizer isto, permite-se também dizer que nem tudo após o dia 25 de Abril de 1974 foi bom para Portugal. A conquista de liberdade e democracia é algo incomensurável. Mas esta conquista também foi feita à custa de muitos erros que hoje em liberdade podemos apontar. A loucura da revolução levou a aumentos salariais nominais de mais de 30%, conduzindo – por não haver correspondência no aumento da produtividade – a inflação de mais de 40%. Isto levou a que mais tarde o FMI tivesse que intervir. Isto não é liberdade, é libertinagem e rebeldia, e, portanto, irracional. Com isto também devemos aprender. Também em 1974 se iniciou um dos períodos mais negros da Historia económica portuguesa, com nacionalizações, às quais só podemos apelidar de autênticos roubos autorizados e praticados pelo Estado a grande parte dos empresários portugueses, que levou em larga medida a consequências ainda hoje sentidas ao nível da competitividade. E a isto esta geração não chama liberdade. Mais: no período conturbado de 1974 a 1975 assistiu-se a uma quase viragem falta para o comunismo, cujo desfecho felizmente para Portugal não foi o desejado pelos partidos de esquerda da altura. E como não se conhece nenhum regime comunista onde haja liberdade, então a isto também esta geração não chama liberdade.
O que podemos aprender da História é que a liberdade é mais que uma conquista, é uma construção. Com altos e baixos. E se em 25 de Abril de 1974 se gritou por liberdade, então saibamos perceber o que realmente é a liberdade. Liberdade de expressão, liberdade de opinião, liberdade de movimentos. Mas também liberdade de circulação de capitais e pessoas, e ainda mais, liberdade de investimento e de iniciativa privada.
Esta geração de que vos falo celebra o 25 de Abril de 1974 como um passo decisivo para a construção da liberdade. E celebra-o com toda a convicção e consciência da sua importância extrema para o País, mas sem complexos nem sobre o 24 de Abril nem sobre o 26 de Abril.
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