Todos sabemos que o Liberalismo, seja ele no conceito moderno ou mais clássico, defende a livre actuação do mercado, o qual atingirá o seu equilibrio via forças dos agentes económicos que exercem pressão pelo lado da oferta e procura.
Todos sabemos também que ao Estado deveria caber um papel de mero regulador de forma a evitar concentrações excessivas de poder de mercado ou situações de abusos na actuação do mercado. Situações como as de monopólios e oligopólios. Tendo assim o Estado um papel reduzido e reservado a sectores dos chamados bens públicos: a justiça, a defesa, a educação, a saúde e o ambiente. Mesmo nestes, a abertura a privados é sempre desejável, dada a sua maior eficiência, desde que com os correctos incentivos.
Mas muito se tem falado nesta altura de religião e conflitos religiosos. De facto, o Estado como hoje o conhecemos provém em grande parte da noção de Igreja, nomeadamente a católica. O Estado, como já tenho aqui defendido muitas vezes e onde bebo a douta perspectiva do Prof. Adriano Moreira, não é uma criação divina, e se fosse boa ou imprescíndível ao Homem, Ele te-lo ia criado e achado que era bom. O Estado foi uma criação do Homem. Boa ou má, tem aspectos positivos e outros nefastos.
Não querendo eu ser nenhuma espécie de blasfemo ou herege, o que é certo é que Deus - Ele próprio - é o primeiro liberal. Senão veja-se:
- cria regras gerais e nada complexas as quais todos tem acesso e cuja interpretação é deixada a cada um.
- deixou a cada um o livre arbitrio de atitudes, de actos, de acções. A liberdade foi sempre tida como essencial para o bom desempenho, e não a obrigação, porque desta não provém um acto consciente e objectivo, mas sim imposto.
- por falar em imposto, não me lembro de ver grandes politicas divinas neste campo. A história do dizimo é suspeita. Só tentou regulamentar as taxas de juro, com as Escrituras a dizerem que não se deveria cobrar juros sobre emprestimos. Mas também isto deve ser interpretado, no contexto da época. Juros é apenas um custo do dinheiro, nao uma forma gananciosa de aproveitamento dos outros, até porque só têm crédito quem possa paga-lo...
- Lembro isso sim da primeira lição de portfolio theory, dada na Bíblia, onde se deverá ajudar o próximo e não acumular riqueza. Claro, a noção de risco é perfeita, ajudar o próximo a desenvolver-se para tornar-se um melhor agente e nao acumular riqueza por forma maximizar os fundos, diversificandoo investimento.
- E mais importante que tudo, ao que parece indicar, Deus não parece ser estranguladoramente interventivo, no sentido repressivo. O livre abitrio é tido como fundamental. Aos crentes, como eu, é reservado o pragmatismo da intervenção divina, em aspectos puramente fundamentais, e como estamos a falar do Divino, com incidencias e timings perfeitos (salve-se melhor opiniao).
Por isto tudo, não deve o Homem seguir estes exemplos, e já que o Estado quer cada vez mais fazer o papel de Deus, por que não faze-lo à Sua imagem?
nota: Tudo o que são interpretações são naturalmente sujeitas a erro. Pelo que surgem interpretações do Dívino que nem sempre são as melhores. Dúvido que Alá ou Maomé se revejam nas atitudes do mundo muçulmano, assim como dúvido que se reveja naquilo que se tem generalizado sobre o Islão. Mas não querendo ferir susceptibilidades, imagine-se se as interpretações do Alcorãofossem mais liberais...parece-me que muito deste fundamentalismo parte precisamente também da falta de livre-arbitrio e de liberdade de acção dos crentes.
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