Assim, dada a enorme quantidade de dinheiro injectada na economia, qualquer sinal de retoma poderia deixar antever um outro problema: a inflação. Contudo, sendo este um cenário possível, a sua concretização assentaria necessariamente na certeza de que todos os esforços foram suficientes (e até mais do que suficientes) para reerguer as economias mundiais, assim como reavivar o consumo, retomar o crédito a níveis normais e até incentivar a poupança, levando ao investimento. Outro cenário possível, contudo, é que todos estes esforços, apesar de avultados, não sejam ainda suficientes, sendo então possível que o mundo retome a perspectiva de deflação, cujas consequências são, a esta proporção, imprevisíveis. Actualmente, o mercado desconta uma maior probabilidade do primeiro cenário ocorrer, e como tal, as taxas de juro de longo prazo tanto da Europa como dos EUA estão a subir de forma bastante forte. Com elas, no entanto, sobem também as taxas das hipotecas a 30 anos, e como tal, tornam mais difícil a recuperação do mercado imobiliário que, relembro, foi precisamente a génese de toda esta crise. Este nível de taxas de juro não é compatível (pelo menos para já) com uma sustentada subida dos índices de acções, pelo que será importante tomar esta variável em atenção aquando da tomada de decisão de investimento.
Por outro lado, foram surgindo alguns sinais de recuperação (ainda que muito ligeiros) da economia mundial. Os números de desemprego nos EUA foram melhores do que a expectativa (ainda assim, o desemprego continua a subir a um ritmo extraordinário), e os níveis de produção tanto nos EUA, como em alguns mercados emergentes com a China e India podem dar alguma esperança. Todavia, estes sinais imediatamente foram reflectidos nas chamadas commodities, nomeadamente o petróleo e o cobre a retomarem níveis quase de pré-crise. Em sentido contrário, como normalmente acontece, esteve o US Dollar, que perdeu em relação às principais moedas, principalmente contra o Euro.
Não obstante toda esta construção macroeconómica, há ainda vários casos por resolver no meio de toda esta crise. Talvez o mais relevante seja o da GM, que na passada semana recorreu à protecção de credores (Chapter 11), sendo a sua falência já amplamente discutida entre stakeholders; assim, a entidade que vai emergir desta falência será maioritariamente detida pelo Estado Americano, mas com participações dos pensionistas e dos detentores de dívida da antiga GM.
No que concerne à Europa, a muito antecipada reunião do ECB não resultou em nenhuma novidade, com o natural anúncio da manutenção das taxas de juro a 1% e com o desvendar de pormenores sobre o processo de compra de covered bonds a não explicar se o ECB irá de alguma forma “imprimir moeda” para financiar essa compra. Certeza fica no entanto quanto à vontade inequívoca do ECB em focar-se no mercado deste tipo de obrigações, esclarecendo que é aquele que mais directa e imparcialmente permite facilitar a retoma do mercado de crédito na Zona Euro.
É já com muita acalmia própria de Verão que seguem os mercados nos últimos dias. Verão que para todos os efeitos não existia assim há mais de dois anos no meio da banca de investimento. Parece tudo demasiado calmo…
in Diário de Aveiro, Suplemento de Economia 09-06-2009
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