domingo, setembro 02, 2007

O subprime português

Agora que a palavra "subprime" já está no vocabulário comum da população europeia não-financeira - a franja com ligações ao mundo financeiro há muito que ja sabia da extensão deste problema -, importa esclarecer ainda muitos pontos.

Na Europa - salvo em Inglaterra, se bem que em moldes diferentes - não há a diferenciação por parte das instituições de crédito face ao nível de risco dos seus clientes, pelo menos de forma tão estratificada como nos EUA, onde como já se viu há uma especialização inclusivamente para a população com maiores dificuldades em adquirir credito. Nos EUA, portanto, esta franja da população consegue emprestimos, nomeadamente hipotecas a niveis de juro bastante elevados. Então e na Europa, principalmente em Portugal?

Bem, o caso por cá é diferente, se bem que na minha opinião igualmente grave. Por cá, os bancos terão sempre assegurado o accionar da garantia, como por exemplo o imovel, para fazer face a uma eventual falha no pagamento das prestações. Como aqui não é possivel ou não é usual pedir emprestimo a meio da hipoteca sobre o valor do imovel total, voltando a 100% de endividamento, o problema que originou o credit crunch nos EUA à partida por esta via não se poe.

A questão é que há muito que muitas famílias portuguesas recorrem a outras instituições de crédito para refinanciamento e empacotamento do crédito, alargando prazos, mesmo que tal signifique mais juros - o que é perfeitamente normal, dado o risco naturalmente assumido pela instituição de crédito -, e implique obviamente o estrangualmento da capacidade de endividamento ao máximo, para toda a vida. Sem possibilidade de novos créditos. Ora, aqui é que reside o maior problema: recurso a credito para resolver problema de dificuldade de pagamento de créditos. A crise por cá é dissimulada por esta via. Os bancos ditos tradicionais não se ressentem, porque as famílias recorrem a instituições de crédito especializadas, e estas também não se queixam, dado a elevada taxa que cobram estar preparada e a conseguir fazer face à percentagem de defaults. Parece tudo bem, excepto num ponto: as famílias.

Estas já não podem deixar de pagar como nos EUA, porque não é so a casa que está em jogo, já são todos os seus rendimentos futuros. O estrangulamento é já evidente em muitos casos, e mesmo assim não parece haver grande vontade de encetar mudanças de habitos de consumo e de recurso a crédito. Parece que a aprendizagem da população portuguesa foi demasiado rápida face à estabilidade de preços e consequente nivel baixo de juros da zona euro (e ainda se queixam da entrada para a moeda única !!!): o nível de juros históricamente baixos nao poderia durar para sempre. E se algum motivo há para o ECB elevar os juros, este é um deles, ou seja, o recurso desmesurado e irracional ao crédito. Infelizmente os portugueses vão aprender esta lição da pior maneira...

1 comentário:

Alentejano disse...

Talvez por ainda ser do tempo em que apenas havia Broa para comer, que sei minimamente interpretar a questão do consumismo,do crédito e do endividamento.
- Sabem porque é que eu não pago prestações da casa?
- Porque os bancos não me deram crédito e eu tive que trabalhar a dobrar para a fazer e pagá-la do ordenado.Hoje sabe-me melhor assim.Obrigado CGD e outros...
É sobretudo uma forma de encarar a vida.
Hoje as famílias endividadas, há muito que hipotecaram o futuro dos filhos, ou.... talvez não.
Certamente os filhos que a viver na mesma casa dos pais, sem poderem pagar as prestações e manter o status, irão enveredar por medidas radicais como as a que diariamente assistimos.
A somar ás dificuldades dos filhos em suportarem as dívidas dos pais, irá aumentar a sobrecarga social com o apoio aos pais já doentes idosos, enfin sós..
Além de que, os EUA não deve, ser exemplo social para ningúem e como tal também no crédito ao consumo.
Eu,, tenho a broa dura e bolorenta para me lembrar ...que o dinheiro dos outros nunca me soube tão bem como a broa..essa sim, boa de milho mas minha de milho meu.