segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Portugueses legitimam decisão de liberalizar aborto

O "sim" venceu o referendo sobre a IVG este domingo. Naturalmente sem a vinculação necessária de 50% dos eleitores, mas devido à hábil manobra política anterior a esta votação por parte do Governo e José Socrates, parece que a decisão a ser tomada pouco dependeria da quantidade de portugueses a votar.

Com efeito, esta consulta popular pouco passou do que uma legitimação da decisão ha muito tomada pelo PS e Sócrates, fortemente apoiado pelo BE, e que desta forma passou o fardo moral para os eleitores, saindo mais um vez em beleza de uma decisão à partida dificil.

Para os apoiantes do "não" trata-se de uma desilusão o facto da maioria dos portugueses não ser sensível à argumentação pró-vida.

Para os apoiantes do "sim" foi uma festa. Exacerbada, exagerada. Não consigo conceber como pode uma vitória de uma decisão que no entender destes apoiantes favorece os direitos da mulher, possa ser comemorada de uma forma tão entusiastica. E isto porque sempre argumentaram que não seriam anti-vida. Não obstante, ficam por se saber quais os direitos de ambos os pais na decisão, qual a forma de financiamento, e pior ainda, quais as medidas de natalidade para contrariar uma natural expansão e democratização do uso desta medida. E claro, que medidas irão ser propostas para que a IVG não se torne uma medida contraceptiva. Demasiadas interrogações para um Governo fraco na hora das decisões dificeis. Demasiadas políticas novas para um Ministério da Saúde com problemas gravíssimos ao nivel da gestão e decisões falhadas. O Povo fez a vontade a Sócrates, agora será ele e o seu Governo capaz de estar à altura das exigências resultantes deste referendo?

Ficamos por saber como irá o Governo reflectir na Lei o espírito e senso-comum de uma população que vê na actual Lei algo contra a mulher e não algo a favor de uma vida ainda por nascer, mas que não obstante considera moralmente condenável esta prática.

Em última análise, que vai este Governo fazer para a IVG não se "democratize" mas sim se torne apenas "possível". Ou será o objectivo mesmo democratizar uma prática perfeitamente anti-natura e resultante de uma paupérrima educação sexual na generalidade da população? Como não se resolve o problema, atenua-se a dor?

Esta noite ouvi dizer que Portugal se tornou mais moderno. Como pode um País tornar-se mais moderno matando fetos legalmente?

Esta noite ouvi dizer que até os católicos votaram sim. Quão ridiculo é o líder partidário que diz tal idiotice, como sabe em quem votaram os católicos (sim, não estamos em nenhuma ditadura bolchevique), e pior, que moral terá alguem que sempre ignorou e até odiou a religião mais difundida em Portugal para comentar em quem votam ou deixam de votar?

Portugal está de facto mais pobre de espírito. Metaforica e literalmente.

7 comentários:

Terra e Sal disse...

Meu Carlos Martins:

Acredito que ninguém está eufórico pela legalização da interrupção da gravidez.
Nestas coisas há sempre quem goste de manifestar-se ruidosamente e assisti ao entusiasmo de alguns, penso que toda a gente assistiu na TV, mas de ambos os lados, do: “SIM e do “NÃO”

Cada um estava naturalmente satisfeito por ter cumprido o seu dever de lutar por aquilo em que acreditava e ter “vencido”...
E nestas coisas, como noutras, trabalha-se com convicção porque acreditamos que a razão está do nosso lado, seja o lado: “A” ou “B”.

No fim da “contenda” se ganharmos temos a prova real de que tínhamos razão, se perdermos sentimo-nos do mesmo modo satisfeitos porque se perdeu em votos, mas não na Razão.
Daí eu compreender o tal entusiasmo de que fala, mas ele foi tanto de um lado como do outro.

Eu até quando vi as alegrias dos apoiantes do “NÃO” até pensei cá para mim:
“Olha, é malta comunista”
É que esses, desde que eu me lembre, nunca os vi dizer que perderam em qualquer eleição, eles é que têm sempre razão!

Mas no meio disto tudo o que importa é sabermos que os portugueses ficaram aliviados de uma carga ingrata que pesava excessivamente nas suas consciências por uma questão de falsa moralidade.

Não permitiam a interrupção da gravidez, consideravam um crime grave, mas não puniam.
Ora, isto num estado de direito que penso vivermos, não tinha pés nem cabeça.

Depois, o país era injusto já que, as bolsas mais abonadas faziam a IVG sem qualquer punição já que, recorriam a clínicas estrangeiras...

As desgraçadas das “Marias” que não têm dinheiro para irem ali a Espanha, eram levadas com grande alarido a tribunal e não sendo punidas, o que estava errado, sujeitavam-se no entanto a serem enxovalhadas por tudo e por todos, à saída dos julgamentos de onde saíam meio condenadas e meio absolvidas.
Tudo isto, era uma injustiça, reconheça.

Na minha opinião só havia duas soluções:
Ou se cumpria a lei integralmente e quem recorresse à IVG era presa, ou então, abolia-se a penalização.
Interromper uma gravidez que era considerado crime por lei, é que não podia ser nem “carne nem peixe”, é que, estamos num estado de direito, repito...

Os portugueses maioritariamente acharam por bem que a penalização fosse abolida, devemos aceitar a sua vontade soberana.

E já agora a “talho de foice” temos de começar a pensar e bem no que respeita a drogas. É que elas existem, absorvem milhares e milhares de pessoas, e está provado que não as conseguimos extirpar do nosso meio...

Anda-se com carrinhas a distribuir e a trocar seringas.
Nas prisões procede-se do mesmo modo. É mais um assunto que nos devia absorver algum tempo e ponderar o que se tem de fazer em concreto com o assunto.
Não podemos viver com hipocrisias.

Não devíamos fugir das realidades, nem vivermos com preconceitos caducos, temos de enfrentar as situações e avalia-las no interesse da verdade...

Uma boa semana de trabalho para si Caro Carlos Martins, e olhe que, já dei ordem de venda das acções da Galp com o mínimo de € 6,47.
Elas estão a subir “vertiginosamente” mas como quem tudo quer, tudo perde, achei melhor ficar com um “passarinho na mão de que ver dois a voar”
Cumprimentos.

Anónimo disse...

Pois olhe, eu estou felicíssimo!

Sempre fui contra-a-vida e pró-morte e apenas pelo facto do sim ter ganho estou bastante satisfeito.

Tenho pena que o referendo não tenha sido vinculativo, mas com tanto atirar de areia para os olhos dos contra-a-morte é natural que não o tenha sido.

Seja como for, o anterior referendo não foi vinculativo e por causa disso algumas amigas minhas tiveram que abrir as perninhas em condições miseráveis. Uma esperiência que adoraram, diga-se.


Este também não foi, mas a maioria dos que votaram, votaram sim. A lei vai mudar e ainda bem.

Anónimo disse...

PS:
Sempre me indignei contra os movimentos pró-vida que não sei porquÊ não se vão manifestar frente aos cemitérios com a palavra de ordem "não entra nem mais um".

Outra...
Mas porque é que os pró-vida não vão protestar contra os fabricantes de armas?! É que até temos fabricas dessas cá em Portugal! E porque é que não são contra as touradas e contra a caça?!

Bah.
Não são assim tão pró-vida quanto isso, pois não?

Anónimo disse...

Comparar uma tourada a um aborto, é de facto um argumento intelectualmente avançado. Talvez por isso tenha ganho o sim...

Didas disse...

Também me pareceu que as manifestações de vitória, dada a sensibilidade do tema, poderiam ter sido mais elegantes. É a única coisa em que estamos de acordo.

Anónimo disse...

O Carlos Martins, o seu Partido e a Igreja Católica, foram derrotados por algum motivo... esta coisa das minorias/maiorias tem os seu "quês". Pense nisso.

Anónimo disse...

julgo que partido algum ou confissão reliogiosa tenham saído derrotados deste referendo... a convicção individual torna utópica a possibilidade de derrotas... mas o problema, creio, é a ausência de convicções e valores (contas de outros rosários)... a órbita da discussão prendeu-se na defesa dos direitos da mulher, quando deveria ser a defesa do direito à vida ou, antagónicamente, a liberdade moral para o negar!