A Fábrica da General Motors da Azambuja tem os dias contados. A questão é irreversível. E nestas ocasiões muito se fala no capital, e na sua fuga ou permanencia. Para mim a questão deve ser posta no porquê e não tentar evitar o inevitavel. Tanto mais que se não fosse o capital tão volatil e facilmente deslocalizável, não era possível ter a veleidade de atrair novos investimentos estrangeiros já implantados noutros locais (sempre com a ressalva que o investimento não é um zero sum game, é antes uma questão de oportunidade / rentabilidade).
No caso da Opel, muito se tem dito em relação à gestão quer nacional quer internacional da Opel. Ora, esse problema é dos accionistas da GM, pois são eles que, em última análise, irão perder. Por isso parece-me algo estranho que se acuse a empresa de não querer maximizar o lucro (sim, essa denominação que tantas vezes parece ser uma ignóbil retribuição de um não menos ignóbil mercado, mas que agora parece estar no cerne da questão). Afinal, parece que sem lucros não há emprego. Brilhante conclusão, meus caros sindicalistas e apoiantes da esquerda demagogica. Poderão, no máximo, apontar um hipotético problema de agencia entre accionistas e gestores, com estes últimos provavelmente a não maximizar o lucro do accionista, e por conseguinte, a defraudar expectativas de investimento, onde se pode incluir a Azambuja. Mais uma vez os principais prejudicados sao os accionistas e eles serão os ultimos a querer menos lucros.
Ora então, o problema não sendo do sistema capitalista, será de que?
Da competitividade do País, obviamente. As diferenças entra a autoeuropa e a Azambuja neste campo são gritantes, visiveis no facto da primeira ter na sua linha de montagem os dois modelos tecnologicamente mais avançados da VW e a segunda ter um modelo de fabricação em série. É diferença que nos separa de ser um País que compete por mão-de-obra barata, mas que é mais cara que os competitores, e um País que compete por mão-de-obra especializada, e neste campo, até é competitivo.
Mas não chega. Por muito que custe, a lei laboral é demasiado rígida. E a questão da lei laboral não é retirar direitos aos trabalhadores; é um trade off entre direitos e emprego: leia-se continuação e manutenção das actuais regalias não competitivas e consequentemente desemprego, ou a flexibilização da lei e ter a capacidade de atrair mais investimento, logo mais emprego. Claro que a fiscalidade tem que dar uma ajuda, mas a ajuda não é uma diferenciaçao entre quem vem investir e os empresarios nacionais. É ter a coragem de abrir mão de receitas fiscais em prol de mais investimento e mais emprego que, em ultima analise, criação um efeito superior ao nível das receitas no longo prazo. Este devia ser o principal sacrifio do País, porque isto seria estruturalmente correcto e actuante.
Também uma palavra para os sindicatos. No verdadeiro sentido do termo, defendem os direitos dos trabalhadores. Mas dos trabalhadores com trabalho, porque os outros sofrem mais do que imaginam as consequencias dos seus actos. Os sindicatos são irresponsáveis, demagógicos e ignorantes. Há que ter a coragem de o dizer. Não têm qualquer sentido de Estado. Veja-se o exemplo de greve na GM, quando a empresa ia fechar. Ridículo. Só conseguiram reforçar o argumento que em Portugal, para alem de falta de competitividade de salários, também uma massa sindical mais elevada que em outros países (Espanha e - espante-se - Europa de Leste) onde até são mais baratos os custos de produção.
Ultima nota para o porque das industrias se deslocalizarem ou não. Nos investimentos apenas uma coisa interessa: a rentabilidade. Tanto para se investir como para se desinvestir. Como não vivemos num mundo socialista no sentido mais sovietico do termo, mas sim numa economia de mercado, não podemos querer uma quando nos interessa mais e a outra nas restantes ocasiões.
O liberalismo não defende o desemprego. De todo. O liberalismo não quer criar marginalizados do sistema. O liberalismo actua é estruturalmente de forma a que se possa atrair investimento rentável e atraves dele criar mais emprego. Liberalismo, ao contrário do que muitos afirmam, não é falta de humanismo, porque não existe humanismo sem racionalidade.